quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Crônica Baseada no Livro "Mundo Singular" Entenda o Autismo




Olá, amores, leiam essa Crônica baseada na leitura do livro “Mundo singular: entenda o autismo”, de Ana Beatriz Barbosa Silva, Mayra Gaiato, Leandro Reveles.

Espero que vocês gostem dessa crônica feita por João Paulo, acadêmico em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe. Beijos.

As diferentes constelações do espectro autista envolve cada criança numa atmosfera singular de um sentir único de solidão e incompreensão. Um mundo grandioso mergulhado dentro de si mesmo. Cada criança se apresenta como um universo a ser explorado, entendido. Eles buscam por meio do olhar que não demora o entendimento de tudo que os rodeia. A visão extraordinária dos detalhes busca enxergar os fragmentos de realidade; a pequena porção de um todo. O olhar que não se fixa no rosto e olhos caminham de mãos dadas com o desejo de enxergar uma realidade particular, íntima. Essa percepção legitima a vontade de transpor seu mundo e buscar o outro. A conexão entre esses dois mundos acontece, nos diferentes níveis do espectro autístico, como uma ponte para a socialização. O autista não quer viver sufocado em si mesmo. Mas às vezes não consegue ser entendido, ouvido. O coração dos autistas, assim como muitos instrumentos musicais, depende de quem o toca. A família é o amparo maior, o reduto onde os anjos e demônios do pensamento norteiam a direção primeira da vida. Aprender a interpretar a criança por inteira é uma tarefa tão árdua quanto projetar seu futuro na sociedade. Os pais se veem diante da imensidão de um mar cruel de dúvidas, incertezas, medo. Tudo é tão novo e ao mesmo tempo tão visceral e desafiador. A quem clamar por ajuda? Como ser ouvidos? Como desbravar um filho sem saber qual caminho percorrer? O pânico crava no peito as unhas do desespero, mas não cala o desejo de ultrapassar barreiras e vencer desafios.

Os pais se transformam em legítimos missionários conduzindo a dura missão de ofertar à vida social um ser que dentro de seu meio familiar não é facilmente compreendido. O espectro autístico é tão flexível que gira constantemente ao redor de extremos: enquanto há crianças que não falam, não andam, sequer sabem se comunicar; há outras que desenvolvem talentos incríveis nas ciências exatas, artes plásticas, cênicas, música e afins. Lidar com extremos não é tarefa fácil, por isso que cada criança é um universo particular, isto é, dentro dela se comporta uma singularidade de gestos, manias, olhares, interesses, sensações. Tudo é único, apesar de semelhanças; concreto, apesar de abstrações; singelo, apesar de confusões.

Fred, 8 anos, passa horas olhando o vento balançar as folhas de sua árvore predileta, e sorri para cada folha que lentamente percorre o ar e depois é acolhida pelo chão; Jonas, 7 anos, dedica seu tempo para saber tudo sobre carros; é apaixonado por automóveis, e dedica longas horas do seu dia a ler o quanto puder sobre veículos; Maria, 6 anos, não deixa seu olhar fixo na professora durante as aulas, seu olhar se encontra perdido na janela admirando o ir e vir dos ônibus; Gael, 9 anos, não se interessa em fazer amizades, dedica seu tempo na escola a leitura de poesias; percorre as aulas com um livro na mão, conduzido por estrofes e versos. Apesar dos comportamentos repetitivos, deficiência na comunicação e interação social, Fred, Jonas, Maria e Gael vivem numa plenitude sem fulminação. Numa redoma de sentimentos que podem parecer, à primeira vista, impenetrável, mas que não o é. Haverá crianças, assim como eles, que logo de imediato se recusarão a compartilhar seu mundo; outras que irão aos poucos o mostrando conforme se sentirem seguras e acolhidas dentro da exata dimensão de si mesmo. O mundo do outro pode parecer invasivo, intimidador, desinteressante, exaustivo. Mas isso irá depender de cada universo particular. Cada criança é um mundo que desabrocha à nossa frente.

O mundo a sua volta não é o todo; é um pequeno fragmento dessa grande porção. O olhar não compreende ter uma ampla visão de tudo que o cerca, mas capturar um fragmento da realidade vista. O detalhe do rosto, do cabelo, dos olhos, sorrisos e lábios são mais atrativos que a expressão facial contida num sorriso. A realidade é observada como um quebra-cabeças: somente após juntar as pequenas peças de realidade é que o todo vem à tona.

Os guardiões desse universo – os pais, resguardam consigo o desejo de que eles voem para o mundo – sem esquecer de seu ninho de origem, desbravem pessoas, lugares, e, principalmente, a vida; a sua própria vida. Eles, mais que quaisquer pessoas, sabem da força motriz que há no sentimento que os impulsionam a superar descaminhos e precipícios em busca do direito de vê-los em comunhão com a sociedade. Há no céu mais estrelas de esperança que nuvens de pessimismo. Muitos podem questionar: “vale a pena passar por tudo isso e ter um filho nesse mundo tão complicado?” A resposta ecoa no peito daqueles que olham e enxergam além do óbvio, do comum: “depende do quando de amor você queira sentir na vida”. Os guardiões desse amor têm consciência que também são céu para os voos de muitos infinitos particulares. 

Por: João Paulo   falecomjpoliveira@hotmail.com

6 comentários:

  1. Oi, tudo bem?
    Que ótimo texto, muito bom e esclarecedor, por mais que eu ache que eu entendo o autismo, mais eu tenho a aprender sobre. Ótimo post!

    Obrigada pelo carinho. Volte sempre!
    Um super beijo :*
    Claris - Plasticodelic

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  2. Gostei bastante da crônica :D

    https://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/

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  3. Já tinha ouvido falar sobre esse livro e achei a proposta dele incrível. Muito legal esse olhar voltado para o autismo.
    Beijos,
    #fiquerosa

    Fique Rosa | Meu Canal YT

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  4. Bom dia Izabel,

    Gostei demais, acho muito importante compartilhar esse conhecimento...bjs.

    http://devoradordeletras.blogspot.com.br/

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  5. Muito boa crônica, fiquei também com vontade de ler o livro para entender um pouco mais sobre o autismo.

    www.estante450.blogspot.com.br

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