Olá, amores, leiam essa Crônica
baseada na leitura do livro “Mundo singular: entenda o autismo”,
de Ana Beatriz Barbosa Silva, Mayra Gaiato, Leandro Reveles.
Espero que vocês gostem dessa crônica feita por João Paulo, acadêmico em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe. Beijos.
As diferentes
constelações do espectro autista envolve cada criança numa
atmosfera singular de um sentir único de solidão e incompreensão.
Um mundo grandioso mergulhado dentro de si mesmo. Cada criança se
apresenta como um universo a ser explorado, entendido. Eles buscam
por meio do olhar que não demora o entendimento de tudo que os
rodeia. A visão extraordinária dos detalhes busca enxergar os
fragmentos de realidade; a pequena porção de um todo. O olhar que
não se fixa no rosto e olhos caminham de mãos dadas com o desejo de
enxergar uma realidade particular, íntima. Essa percepção legitima
a vontade de transpor seu mundo e buscar o outro. A conexão entre
esses dois mundos acontece, nos diferentes níveis do espectro
autístico, como uma ponte para a socialização. O autista não quer
viver sufocado em si mesmo. Mas às vezes não consegue ser
entendido, ouvido. O coração dos autistas, assim como muitos
instrumentos musicais, depende de quem o toca. A família é o amparo
maior, o reduto onde os anjos e demônios do pensamento norteiam a
direção primeira da vida. Aprender a interpretar a criança por
inteira é uma tarefa tão árdua quanto projetar seu futuro na
sociedade. Os pais se veem diante da imensidão de um mar cruel de
dúvidas, incertezas, medo. Tudo é tão novo e ao mesmo tempo tão
visceral e desafiador. A quem clamar por ajuda? Como ser ouvidos?
Como desbravar um filho sem saber qual caminho percorrer? O pânico
crava no peito as unhas do desespero, mas não cala o desejo de
ultrapassar barreiras e vencer desafios.
Os pais se
transformam em legítimos missionários conduzindo a dura missão de
ofertar à vida social um ser que dentro de seu meio familiar não é
facilmente compreendido. O espectro autístico é tão flexível que
gira constantemente ao redor de extremos: enquanto há crianças que
não falam, não andam, sequer sabem se comunicar; há outras que
desenvolvem talentos incríveis nas ciências exatas, artes
plásticas, cênicas, música e afins. Lidar com extremos não é
tarefa fácil, por isso que cada criança é um universo particular,
isto é, dentro dela se comporta uma singularidade de gestos, manias,
olhares, interesses, sensações. Tudo é único, apesar de
semelhanças; concreto, apesar de abstrações; singelo, apesar de
confusões.
Fred, 8 anos, passa
horas olhando o vento balançar as folhas de sua árvore predileta, e
sorri para cada folha que lentamente percorre o ar e depois é
acolhida pelo chão; Jonas, 7 anos, dedica seu tempo para saber tudo
sobre carros; é apaixonado por automóveis, e dedica longas horas do
seu dia a ler o quanto puder sobre veículos; Maria, 6 anos, não
deixa seu olhar fixo na professora durante as aulas, seu olhar se
encontra perdido na janela admirando o ir e vir dos ônibus; Gael, 9
anos, não se interessa em fazer amizades, dedica seu tempo na escola
a leitura de poesias; percorre as aulas com um livro na mão,
conduzido por estrofes e versos. Apesar dos comportamentos
repetitivos, deficiência na comunicação e interação social,
Fred, Jonas, Maria e Gael vivem numa plenitude sem fulminação. Numa
redoma de sentimentos que podem parecer, à primeira vista,
impenetrável, mas que não o é. Haverá crianças, assim como eles,
que logo de imediato se recusarão a compartilhar seu mundo; outras
que irão aos poucos o mostrando conforme se sentirem seguras e
acolhidas dentro da exata dimensão de si mesmo. O mundo do outro
pode parecer invasivo, intimidador, desinteressante, exaustivo. Mas
isso irá depender de cada universo particular. Cada criança é um
mundo que desabrocha à nossa frente.
O mundo a sua volta
não é o todo; é um pequeno fragmento dessa grande porção. O
olhar não compreende ter uma ampla visão de tudo que o cerca, mas
capturar um fragmento da realidade vista. O detalhe do rosto, do
cabelo, dos olhos, sorrisos e lábios são mais atrativos que a
expressão facial contida num sorriso. A realidade é observada como
um quebra-cabeças: somente após juntar as pequenas peças de
realidade é que o todo vem à tona.
Os guardiões desse
universo – os pais, resguardam consigo o desejo de que eles voem
para o mundo – sem esquecer de seu ninho de origem, desbravem
pessoas, lugares, e, principalmente, a vida; a sua própria vida.
Eles, mais que quaisquer pessoas, sabem da força motriz que há no
sentimento que os impulsionam a superar descaminhos e precipícios em
busca do direito de vê-los em comunhão com a sociedade. Há no céu
mais estrelas de esperança que nuvens de pessimismo. Muitos podem
questionar: “vale a pena passar por tudo isso e ter um filho nesse
mundo tão complicado?” A resposta ecoa no peito daqueles que olham
e enxergam além do óbvio, do comum: “depende do quando de amor
você queira sentir na vida”. Os guardiões desse amor têm
consciência que também são céu para os voos de muitos infinitos
particulares.
Por: João Paulo falecomjpoliveira@hotmail.com
Esse livro parece maravilhoso!
ResponderExcluirBeijo!
Cores do Vício
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirQue ótimo texto, muito bom e esclarecedor, por mais que eu ache que eu entendo o autismo, mais eu tenho a aprender sobre. Ótimo post!
Obrigada pelo carinho. Volte sempre!
Um super beijo :*
Claris - Plasticodelic
Gostei bastante da crônica :D
ResponderExcluirhttps://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/
Já tinha ouvido falar sobre esse livro e achei a proposta dele incrível. Muito legal esse olhar voltado para o autismo.
ResponderExcluirBeijos,
#fiquerosa
Fique Rosa | Meu Canal YT
Bom dia Izabel,
ResponderExcluirGostei demais, acho muito importante compartilhar esse conhecimento...bjs.
http://devoradordeletras.blogspot.com.br/
Muito boa crônica, fiquei também com vontade de ler o livro para entender um pouco mais sobre o autismo.
ResponderExcluirwww.estante450.blogspot.com.br